A IGREJA SEM IGREJA – Stefano Fontana
[Numa entrevista ao blog de Matteo Matzuzzi, o Cardeal Charles Maung Bo nos apresenta palavras claras na sua total confusão: a Igreja já não tem uma missão, porque deve permanecer minoria, tem que viver nas catacumbas, feliz por estar ali; e, com a intenção de permanecer ali, ela deveria ser batizada e não voltar a batizar. Mas, em caso afirmativo, ainda seria a Igreja?]
É espantoso ler que, segundo um cardeal asiático, o cristianismo deveria ser “batizado” nas religiões orientais: “A Igreja precisa ser batizada no Jordão das culturas asiáticas, absorvendo a simplicidade e a interioridade da religião asiática”.
Como sabemos, batizar significa entrar na nova vida divina. Portanto, podemos nos perguntar o que há de divino nas culturas orientais para purificar e elevar o cristianismo e a Igreja Católica. Sempre se disse que foi o cristianismo que teve a força de confirmar as culturas em seus elementos legítimos da lei natural, e depois purificá-las e elevá-las, iluminando-as e dando-lhes uma nova vida. Que um cardeal diga o contrário, hoje, nos deixa um pouco confusos.
Falo do cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon (Mianmar), líder de uma Igreja de extrema minoria no país, criado cardeal há cinco anos, e de sua entrevista ao blog “Newman”, de Matteo Matzuzzi, publicada em 16 de outubro.
A sua ideia do batismo do cristianismo nas religiões orientais, muito problemática do ponto de vista teológico, é também motivada pela suposta origem “oriental” do cristianismo e, portanto, pela expectativa, no futuro, do seu regresso a casa, depois do “decepcionante período ocidental”. O julgamento é insustentável.
Em primeiro lugar, por razões históricas: a Palestina da época de Jesus era território do Império Romano e, portanto, não gravitava no Oriente, mas no Ocidente, de modo que é difícil assegurar que o Cristianismo seja de origem oriental.
Segundo, por razões culturais: o cristianismo “ocidental” não decepcionou. Bento XVI, cuja visão é drasticamente oposta à do cardeal Bo, argumentou que o cristianismo no Ocidente havia encontrado algo providencial que não poderia ser considerado patrimônio exclusivo do Ocidente. Um desses elementos providenciais foi o encontro com a metafísica (grega), que nunca poderia ter ocorrido no Oriente, e sem o qual a formulação do símbolo apostólico não teria sido possível: a Igreja não teria sido induzida a falar, com a ajuda da razão, sobre as coisas em que acreditava; os grandes concílios da antiguidade não teriam as categorias conceituais para especificar a doutrina e o cânon. Teria sido bastante prejudicial, como podemos ver, um cristianismo “oriental” em vez de “ocidental”.
É óbvio que, no Ocidente, nasceu algo que não é apenas ocidental e que não pode se tornar oriental. Se os cardeais e bispos das Igrejas asiáticas devessem permanecer prisioneiros dessa concepção geográfico-sociológica do “cristianismo ocidental”, isso seria um verdadeiro problema para a Igreja.
O cardeal Bo, em sua entrevista, liquida o Ocidente europeu, considerando-o muito “profundo e analítico”, e o Ocidente latino-americano, que teria transformado o cristianismo em uma “paródia”. A Ásia, por outro lado, “com o significado profundo que dá à energia interior e à sacralidade do cosmos, é um terreno fértil para o Jesus místico e trinitário”. E acrescenta: “Sem a Ásia, o cristianismo poderia se transformar em história. Nem a Ásia nem a África querem contribuir para esta eventual tragédia”. Embora levando em conta que uma curta entrevista não pode deixar de ser superficial, como essas passagens de fato demonstram, aqui notamos dois graves erros de abordagem.
A mística cristã, e mesmo a simples contemplação, têm muito pouco em comum com a mística oriental, algo infelizmente negligenciado hoje, tanto que até o Papa Francisco iguala o monge católico ao monge budista. Acredito que nenhum Dupuis [Jacques Dupuis, jesuíta adepto do pluralismo religioso] jamais será capaz de diminuir a distância existente entre as duas visões da mística. A primeira é o desenvolvimento do conhecimento metafísico (sem metafísica não há mística católica), enquanto a segunda é uma mística da dissolução de si mesmo no Todo.
Mesmo entre a visão cristã do cosmos e a das religiões asiáticas, há uma diferença abissal. Na primeira, o cosmos foi dado à responsabilidade co-criativa humana, à penetração racional e à manipulação técnica legítima; nas segundas, ao contrário, o cosmos é um todo vivente do qual o ser humano não é senhor, mas um elemento.
Quanto à “tragédia” de um cristianismo que quer “converter-se em história”, é preciso lembrar que isto é inevitável, visto que o Cristo é o Senhor da história, e é estranho que agora os cardeais asiáticos o questionem. Obviamente, é difícil pensar assim sem as categorias filosófico-teológicas “ocidentais”, mas precisamente isto explica por que elas foram formuladas no Ocidente, embora não sejam apenas ocidentais. Se os cardeais asiáticos as rejeitam pela primeira razão, perdem a segunda, e isto é muito grave.
A Igreja Católica de Mianmar é uma grande minoria no país. O cardeal Bo sabe disso, mas acredita que deve ser assim, que Cristo não quer igrejas majoritárias, mas apenas igrejas suburbanas: “Um punhado de cristãos abalou o poderoso Império Romano com seu robusto testemunho de amor. Falar de uma ‘Igreja forte’ é, portanto, impróprio. Poder e dominação são a antítese da Igreja de Cristo. O milênio da Igreja triunfante e espetacular já passou”.
Palavras claras em sua confusão: a Igreja já não é missionária porque deve permanecer minoria (o espírito missionário representaria, portanto, poder e domínio); a Igreja deveria viver nas catacumbas e feliz por estar ali, e, com a intenção de aí permanecer, deveria ser batizada e não voltar a batizar. Ótimo, mas se assim fosse, ainda seria a Igreja?
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